Pulseiras da Discórdia

Nos últimos meses as pulseiras coloridas têm dado o que falar. Já saiu reportagem em várias mídias explicando até os significados de cada uma. Alguns jovens desocupados do Reino Unido inventaram essa simbologia. Outros jovens desocupados se permitiram expandí-la. E mais jovens desocupados se apropriaram da brincadeira.
Não preciso aqui relatar o significado do “jogo” e não o farei. Mas sinto a necessidade de expor minha opinião, como tantos outros fizeram. Valho-me, inclusive, da minha profissão: professor.
Fico pasmo como a coisa tomou corpo. Não faz muito tempo, minha afilhada as usava e comprei algumas para ela. De repente, descobre-se que as tais pulseiras se tornaram convites vip. Um acessório aparentemente inofensivo se torna capaz de sobrecarregar a áurea da sociedade. E daí os pais se perguntam: “permito ou não permito que use?”. Esses mesmos pais têm uma dificuldade enorme de fazer com que seus filhos cheguem em casa no horário marcado, façam seus deveres, pratique as lições de ética e moral ensinadas, afastem-se dos “perigos do mundo”… Como farão para arrancar-lhes as pulseiras? Aliás, arrancar não pode… Quais argumentos utilizar para que não usem as pulseiras? E o que é pior, no caso de filhos pequenos, como explicar o fato? Simplesmente proibir o uso do acessório não fará sentido.
Algumas escolas proibiram a pulseira. As mesmas escolas que permitem o uso do celular, do mp3 e de vários outros elementos que não fazem parte do cotidiano escolar. Percebam que em algumas escolas já não é mais requisito o uso do uniforme. Não se necessita crachá ou cartão de identificação. Mas vão observar se os alunos estão com as pulseirinhas… Tá bom!
Alguns legisladores pensam em criar uma lei, oficializando a proibição do acessório. O que é mais uma lei, não é mesmo? Tantas estão aí e não são cumpridas. Para que se preocupar em educar e conscientizar o cidadão? Para que se preocupar com os valores que a sociedade perde a cada dia? Vamos criar leis, vamos proibir!
Ok, não usaremos mais as pulseiras, mas estaremos algemados, presos por nossa incompetência de não lutarmos pelo o que achamos correto, presos por nossa incompetência de admitirmos e colocarmos em prática a “cultura de fora”, presos por nossa competência de aceitarmos sem dizer nada.
É mais fácil proibir do que argumentar. É mais fácil negar que educar. Assim, não usamos pulseiras, pois podemos sofrer algum tipo de violência. Não usamos relógio, pois podemos ser roubados. Não vestimos o fardão de nosso time, pois poderemos morrer. Porém, não ficamos muito apreensivos, pois logo teremos uma nova moda. Uma nova proibição.
Aproveitando o ensejo, quero alertar aos pais que as crianças, ainda muito pequenas, estão muito precoces. Posso falar com propriedade de causa. Antes de se preocupar em proibir a utilização das pulseiras, procure conhecer seus desejos, seus sentimentos, o que pensam, o que fazem. Eduquem! Tudo se tornará mais fácil. Até proibir!

1 Response to Pulseiras da Discórdia

11 de jun. de 2010, 11:23:00

Douglas, muito bom o seu texto, me fez até rever minha posição quanto à proibição...
Vou pensar muito sobre isto...

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Reflexão

"Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um com um pão, e, ao se encontrarem, trocarem os pães, cada um vai embora com um.
Se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um com uma ideia, e, ao se encontrarem, trocarem as ideias, cada um vai embora com duas." - Provérbio Chinês

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